quarta-feira, 11 de abril de 2012

Soneto do Rato

Ó pássaro, que voa lá no alto
por núvens que obnublam-me a visão,
vislumbro-te o adejar aqui do chão
e toma-me o espavento assim, de assalto.

I’m  sorry, if I am looking like a “nerd”,
mas noto a  galhardia de sobejo
e venho invectivar-lhe em meu bradejo:
Je suis jusqu’à mon cou de cette merde!

De longe é bem mais fácil ser bonito,
não há um que discorde, isso é um fato.
Pois bem, sem desacordo, sem conflito.

Desculpe, então, cortar o seu barato.
Tu vês, ó ave, apenas o finito,
o céu, pos sua vez, quem vê é o rato.

sábado, 7 de abril de 2012

Soneto do Túnel Vertical

“No fim do túnel sempre haverá luz”
taí algo que ouvimos toda hora.
Soubessem eles onde estou agora
pra ver como este papo não seduz...

No túnel vertical de uma só boca
Há apenas queda. Luz, só no começo.
No fim, a lama. O preço do tropeço
é dar de cara numa vida oca.

Quem dera o existir fosse mais raso,
Mas não, quanto mais cavo, mais afundo.
Mas não, quanto mais corro, mais me atraso!

Talvez não seja assim com todo o mundo,
apenas narro aqui o que é meu caso:
cavei meu próprio poço e estou no fundo.

Soneto Sem Ética

Não posso promover o que reprovo
e ostento a hipocrisia até o fim.
Pois vai que um dia fazem contra mim
o mesmo que hoje faço quando trovo...

Enfeito a consciência com nanquim,
me borro todo e finjo que renovo
um eu que, quando é outro, desaprovo
dizendo: “meu amor, não faça assim”.

Me escondo sob a máscara do artista.
O risco é perder tudo, mas não ligo,
há sempre uma desculpa em minha lista.

E é claro que o problema não é comigo.
Palavra é bola, sou malabarista
e o centro do universo é meu umbigo.