sábado, 26 de novembro de 2011

Fluxo fixo

Perplexo com o fluxo das idéias
no eterno discorrer do dia a dia,
meu cérebro se esforça em apinéia
e meu verso morre por asfixia.

No lugar das palavras são as coisas
que falam. Feito coisas as palavras
passam. Já que não encontram mais bocas,
fogem dos ralos por onde, caladas,
escorrem, escondem-se e morrem. Poucas
escapam e, no buraco do ouvido
alheio pulam. São tidas como loucas
quando audíveis ao indivíduo
alheio, pulam. São tidas como loucas,
escapam e, no buraco do ouvido
escorrem, escondem-se e morrem. Poucas
fogem dos ralos por onde, caladas,
passam, já que não encontram mais bocas
que falam. Feito coisas, as palavras
no lugar das palavras, são as coisas.

E meu verso morre por asfixia.
Meu cérebro se esforça em apinéia
no eterno discorrer do dia a dia,
perplexo com o fluxo das idéias.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Soneto Pequeno

O mundo é grande e eu sou pequenino.
O mundo, na verdade, é bem gigante.
O resto, bem, não é significante.
O mundo é homem. Eu, mero menino.

Os homens são tão grandes neste mundo
que o resto todo é só poeira e vento
sem rumo. Apenas tempo e movimento,
é hora o homem. Eu, nem um segundo.

Um  grão, nesta ampulheta que não vira.
Deixei o vão, a queda vivo assim.
Meu alvo é chão, dispenso, pois, a mira.

Afirmam que algo há de eterno em mim,
mas como acreditar nesta mentira?
Um pingo e pronto: um ponto marca o fim.

Autoconselhos

Reserva ao teu destino o necessário.
Confie à sorte o premio que lhe cabe.
- da sorte é bom saber que não se sabe.
Distingue, então, caminho e itinerário.

Não culpe o sol que brilha do outro lado
por ser a noite escura e fria o caso.
Não culpe o tic-tac e nem o atraso,
o tempo é indiferente e sossegado.

Vai já dormir sozinho, triste e rouco,
pois nenhum deus ouviu a tua prece.
A prece de quem berra feito um louco:

“Quem dera a minha amada hoje viesse
e o sol aqui ficasse mais um pouco
dourando a duração que ela merece!”